Queimaduras, amputações e até mortes: especialistas alertam para os riscos de fogos de artifício
Mulher atingida por rojão teve lesões nos braços, no peito e no abdômen. Médicos dizem que incidentes do tipo ocorrem com frequência
São Paulo|Isabelle Amaral, do R7
A morte de uma mulher de 38 anos durante o Réveillon na Praia Grande (SP), após ficar com um rojão preso na roupa, acende um alerta para os riscos causados por fogos de artifício. De acordo com os especialistas entrevistados pelo R7, incidentes causados por esses artefatos podem variar de queimaduras ou amputações a casos mais graves, como a morte.
Durante as festas de fim de ano, é comum que turistas e moradores, sobretudo em cidades litorâneas, se reúnam para observar o céu iluminado pelos fogos de artifício como uma forma de celebração. Mas cenas que parecem uma tradição dessa época do ano causam, muitas vezes, danos irreparáveis, não só para a pessoa responsável por manusear o objeto mas também aos que estão nas proximidades.
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De acordo com o doutor Luiz Philipe Molina, que é cirurgião plástico no Hospital Nove de Julho e faz parte da Sociedade Brasileira de Queimaduras, em época de fim de ano há um aumento significativo de incidentes causados por fogos de artifício e até "bombinhas".
"São feitos de pólvora e são, de fato, explosivos, então podem levar a dois tipos de lesão: remoção da região do corpo atingida, uma vez que a pessoa recebe uma onda de choque, e queimadura nos tecidos ocasionada pelo calor da explosão", explica.
O médico cita, ainda, o caso de uma paciente que acabou com uma bombinha dentro de uma bota e, antes que pudesse tirar, o artefato explodiu, e foi necessária a amputação desse pé.
Com Elisangela Tinem, que passava a virada do ano na praia, o acidente foi semelhante, mas resultou na morte dela. A mulher foi atingida por um rojão preso na roupa, jogado por algum visitante da praia. Agora, a polícia trabalha para identificar o suspeito por lançar o explosivo.
Familiares tentaram retirar o objeto da roupa de Elisangela, sem sucesso. O rojão explodiu, tirou a vida da mulher e causou choque em todos os familiares que compartilhavam o momento, até então, de confraternização.
Como ajudar em casos assim?
Nesses casos, a recomendação, de acordo com o médico Júlio Viola, que trabalha no pronto-socorro do Hospital Beneficência Portuguesa, é chamar imediatamente o resgate. "Qualquer pessoa que estiver muito perto pode ter risco de queimaduras e, a depender da explosão, graves", ressaltou.
Em 40 anos de profissão, o especialista, que também é cirurgião plástico, diz que nunca viu nenhum acidente parecido com o de Elisangela. "O rojão deve ter ficado muito perto do abdômen", afirma.
Segundo Viola, quem geralmente manuseia o utensílio também sai ferido, dependendo de como se soltam os fogos. "Há riscos de queimaduras principalmente nas mãos de quem soltou o rojão, porque a pessoa está segurando. Para quem estiver próximo, o melhor a fazer no momento é tentar estancar o sangue com algum pano e procurar o mais rápido possível uma unidade de saúde."
Para o médico Luiz Philipe Molina, a principal e mais adequada recomendação para prevenir acidentes é fácil: "Não brincar com fogos de artifício", afirma. Apesar disso, o cirurgião plástico diz saber que não é tão simples assim, principalmente em regiões em que shows de fogos são tradição.
"É necessário uma conscientização sobre isso, mais campanhas que falem sobre os perigos. Mesmo quem tem costume de usar e nunca se machucou pode ser que uma hora, por um descuido, acabe se machucando ou ferindo outra pessoa", ressalta.
Em relação à reação de parentes e pessoas próximas ao local do incidente, o especialista afirma que o melhor é se afastar, mas sabe que essa não seria a reação de um familiar, por exemplo. "Nesse caso, o melhor a fazer é pegar uma toalha, um tecido, o que estiver mais próximo, e embrulhar o rojão. Mesmo assim, é muito arriscado", completa.
Queima e comercialização de fogos são proibidas em São Paulo
Em julho de 2021, o então governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), sancionou a lei 17.389/2021, que proíbe a queima, a soltura e a comercialização de fogos de artifício.
"A proibição se aplica a recintos fechados, ambientes abertos, áreas públicas e locais privados. Fogos que produzem efeitos visuais sem estampidos podem continuar a ser utilizados e comercializados", segundo o decreto. O valor da multa para quem infrigir essa lei é de R$ 4.300.